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quarta-feira, 27 de abril de 2016

COLUNA. Acessibilidade e inclusão: direito e dever de todos?

Por Danielle Cardoso
27/04/2016 - Fortaleza

Olá, gente! Meu nome é Danielle Cardoso, mas quase todos me chamam de Dani. Sou aluna do Curso de Letras do Centro de Humanidades da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e sou a única cadeirante de lá. Tá, você deve estar se perguntando por que estou escrevendo no blog Letras Na UECE. Bem, fui convidada para escrever uma coluna para o blog e o tema será “Os desafios e as superações de uma pessoa com Paralisia Cerebral (PC)”. 

Eu tive PC ao nascer e, por isso, não ando, tenho dificuldades para falar e reajo com movimentos estranhos, involuntários. Aí, você me pergunta: “Ok, Dani, mas o que é Paralisia Cerebral? E o que eu tenho a ver com isso? Para que vou ler seu texto?”. Vamos por partes. PC “é uma lesão cerebral que acontece, em geral, quando falta oxigênio no cérebro do bebê durante a gestação, no parto ou até dois anos após o nascimento”, assim define a jornalista Paula Nadal, para o site Nova Escola. Uma pessoa com PC pode ter complicações na fala, na audição, na visão e no equilíbrio. No entanto, uma criança que tenha tal paralisia não necessariamente tem danos intelectuais. Sou prova viva disto: mesmo com todas as minhas limitações, tenho a parte cognitiva intacta. É aqui que vocês, cidadãos e futuros professores, entram.

Eu explico. Se crianças com PC e com outras deficiências podem não ter comprometimento cognitivo, elas vão estudar, certo? E aí eu pergunto: como o professor deve incluí-las, se elas têm várias outras limitações? Como vocês imaginam que devem lidar com crianças com alguma deficiência em sala de aula? E na rua, vocês as tratam como coitadinhas? Sem falar que ninguém está imune a ter que usar uma cadeira de rodas, ficar cego ou até mesmo ficar tetraplégico por alguma doença ou acidente. E aí, se você não se importa agora, tem preconceito e tudo mais, como vai pedir respeito se um dia isso acontecer? Complicou, não é?

Não estou querendo assustar ninguém, só quero que percebam o quanto é sério que vocês se importem. Chega de “não é comigo, não tô nem aí”. Será mesmo que não é uma realidade, pelo menos, próxima de vocês? Tenho três anos de UECE e lembro bem quando cheguei ao Campus Fátima. Foi cada cara de espanto, tanto “e agora?”, que me assustei. Poxa, eu só queria e quero estudar, é um direito meu! Depois, entendi que o CH nunca teve um aluno nas mesmas condições que eu. Me deparei com muitos professores com doutorado, mas que não tiveram preparação nenhuma para lidar com uma aluna deficiente.

Não foi fácil e ainda não é. Como o CH ainda tem a mesma estrutura, o que vou escrever agora ainda vale para hoje. Minha semana de integração (primeira semana de aula) foi meu primeiro desafio. As palestras eram no andar de cima e o prédio não tem rampas ou elevador, então, o jeito foi os servidores me subirem nos braços, com cadeira e tudo. Hoje, penso duas vezes antes de me inscrever em eventos do CH. Depois, o desafio foi assistir às aulas. Além de ser difícil chegar ao CH, pois a Universidade ainda não havia liberado um transporte para mim e vocês podem imaginar o quanto é impossível um cadeirante pegar um ônibus no horário de pico da manhã, minhas salas ainda eram de difícil acesso. Eram portas estreitas, batentes, escadas, caminhos irregulares cheios de buracos e de outros obstáculos.

Quando conseguia entrar na sala de aula, todos me olhavam com a expressão de “a E.T. chegou”. Isso mexe tanto com o nosso psicológico, vocês nem imaginam. Além disso tudo, eu precisava/preciso de uma mesa para colocar o computador e acompanhar a aula. Quem disse que havia uma mesa na sala? O jeito era os professores me cederem a deles. Chegava a ser engraçada a cena. Sorte que estudei com verdadeiros mestres, mas já escutei perguntas do tipo “Ela acompanha?”, “Ela está matriculada na disciplina?”, “Como dou aula pra ela?”.

Passar por tudo que tentei descrever aqui para ouvir tais perguntas, ainda mais na terceira pessoa do singular, é desesperador, revoltante e tudo o mais que vocês pensarem. Se você leu até aqui e continua não se importando, eu sinto muito. Feche a página. Não tenho mais nada para dizer a você. Mas se você gostou do que leu e quer saber mais sobre como consegui passar por tudo isso e sobre como se preparar para lidar com situações como as que mencionei, acompanhe a coluna. Quinzenalmente, sairá um texto meu aqui e posso garantir que, depois de três anos, tenho muito a falar. Até a próxima!

Os textos assinados e os pensamento expressados neles são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do blog Letras Na UECE.


Sou Danielle Cardoso, graduanda do curso de Letras Português – Bacharelado da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e estagiária do Laboratório de Inclusão da Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Social (STDS). Sou cadeirante, pois tive Paralisia Cerebral ao nascer, o que afetou meus movimentos e minha dicção, mas não minha vontade de vencer.

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