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Assembleia Geral de Estudantes de Letras - Noite (02/05) Foto: Centro Acadêmico de Letras Jáder de Carvalho |
No último dia 29 de abril e no último dia 04 de maio, foram deflagrados, respectivamente, movimentos de greve docente e estudantil, na Universidade Estadual do Ceará. A paralisação dos professores, discutida já na assembleia do dia 22 de abril e até mesmo esperada, depois da deflagração de greve na Faculdade de Educação de Itapipoca (FACEDI - UECE), foi aprovada por ampla maioria dos presentes à assembleia.
No começo desta semana, na manhã do dia 02 de maio, o colegiado de professores do Curso de Letras se reuniu para se posicionar quanto à paralisação geral da categoria docente. Embora o espaço da Assembleia Geral seja soberano, não é raro que cursos, ao deliberarem em colegiado, se recusem a seguir o deliberado em assembleia. Ao mesmo tempo que os professores se reuniam, na sala 01 do Campus Fátima, os estudantes também se reuniam, no auditório da atual sede do Centro de Humanidades. Ambos os segmentos reunidos com seus pares para deliberar sobre uma pauta que, muito recorrentemente, conta com a antipatia do Curso de Letras: a greve.
Sala 01 e auditório foram cenários de falas das mais variadas. De professores que não tinham decidido um posicionamento ou que não queriam comprometer, mais uma vez, o calendário letivo até estudantes que não compreendiam exatamente o que é uma greve estudantil ou que, por não irem às aulas devido ao crescimento da sensação de insegurança, temiam retaliação. Por volta das 11h, a esmagadora maioria dos professores (houve apenas três abstenções e nenhum voto contrário) e os estudantes unanimemente (unanimidade que se repetiu na assembleia noturna) votaram por adesão, apoio e participação no movimento de greve. No segmento discente, muito em solidariedade aos professores substitutos, a votação foi ainda mais histórica, uma vez que o Curso de Letras antecipou uma paralisação estudantil só deflagrada, em Assembleia Geral de Estudantes de toda a universidade, dois dias depois.
Frente ao novo momento de paralisação, ressurge uma antiga estigmatização sobre a Universidade Estadual do Ceará: "greve de novo?". Estigmatização essa que atinge a autoestima da instituição e de quem a constitui como se reverberasse, na imagem semântica da universidade, a mesma precarização que é vista e sentida na imagem real, física, estrutural. Em momento de tamanhos absurdos políticos, é sintomático que o imaginário coletivo atribua à instituição a autoria de uma precarização que não lhe cabe. Ou, pior, que a reduza a essa precarização. Mesmo historicamente sucateada e sobrevivente de um constante subfinanciamento, a Estadual é "como uma haste fina, que qualquer brisa verga, mas que nenhuma espada corta", como canta Maria Bethânia, mantendo-se como a melhor universidade estadual do norte-nordeste e do centro-oeste, segundo a Folha de S.Paulo; inaugurando novos programas de pós-graduação; entregando à sociedade centenas de graduados, mestres e doutores, por ano; tendo cursos de graduação excelentemente avaliados pelo ENADE; superando, enfim, quaisquer expectativas que possam haver considerando sua realidade de investimento governamental.
É raso - especialmente diante da ocupação de escolas estaduais e de uma greve docente do Ensino Médio, com a reivindicação de melhorias fundamentais -, afirmar que as dificuldades da UECE devem-se exclusivamente às greves ou reduzir uma universidade com 41 anos de fundação às instabilidades de calendário letivo, já que é também por meio dos movimentos paredistas que conquistas foram alcançadas. Não é hora de contribuir com a desmoralização da instituição reproduzindo a estigmatização do "greve de novo?", mas, sim, de contribuir para a conscientização política da sociedade (fora e dentro da universidade) reiterando as motivações de mais uma greve: o Governo ainda não fez o concurso para servidores técnico-administrativos? Ainda não nomeou 81 professores aprovados em concurso? Ainda não autorizou a reforma e a ampliação do campus de Itapipoca? Ainda não considerou reajuste salarial docente? Ainda mantém a universidade numa corda bamba financeira, ameaçando conquistas estudantis? Ainda não percebeu que é preciso ampliar o efetivo policial e garantir uma segurança mínima do entorno de vários campi da instituição? O funcionalismo público ainda precisa se preocupar com um projeto de lei tenebroso que tramita silenciosa e covardemente?
É hora de reafirmarmos o orgulho que temos (ou devemos ter) por fazermos, diretamente, parte de uma universidade pública, construída e mantida à base da reivindicação, da negociação, da resistência. Nem só de greves vive a UECE, e sabemos disso. Afinal, seria fácil se a questão fosse apenas "greve de novo" e não "descumprimento de acordos pelo governo de novo". Enquanto nos separamos em arquibancadas de "contra" e "a favor", estudantes secundaristas ocupam escolas públicas, promovem atividades de resistência e direcionam suas queixas a quem realmente deve ouvi-las: o Estado.
1 comentários:
"Nem só de greves vive a UECE, e sabemos disso." - verdade; e faz-se necessária uma constante reivindicação.
Mas..., por outro lado, o tempo urge!
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