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Curso de Letras da UECE

Com novos tempos à vista, entendeu-se necessário criar um projeto participativo para a concentração da produção e divulgação de conteúdo universitário.

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"Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução..." - Machado de Assis

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"Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução..." - Machado de Assis

quarta-feira, 29 de junho de 2016

COLUNA | Qual o valor do seu trabalho?

Por Danielle Cardoso
29/06/2016 - Fortaleza

Olá, pessoal! Tudo bem com vocês? Estamos no fim do mês de junho (já?), espero que vocês tenham aproveitado as festas juninas e, para fechar esse mês, aqui na coluna, quero compartilhar um tema difícil de lidar: (des)valorização do trabalho. Como está o reconhecimento do que você faz? Se as pessoas não valorizam seu trabalho, não se preocupe, você não está só. Vem comigo?!

Quase todo universitário chega a um ponto que, para continuar na faculdade, tem de trabalhar. E aí, a gente já sabe: se já era difícil só estudar, estudar e trabalhar, então, é quase impossível. O problema é que muita gente (familiares, professores, amigos, governo) faz questão de não reconhecer todo o esforço de jovens para serem alguém na vida, desvalorizando muitos tipos de trabalho. Entendo trabalho como todo e qualquer tipo de atividade, remunerada ou não, que uma pessoa possa fazer. Estudar é um trabalho, o primeiro e mais duradouro de nossas vidas. Como dói quando nos matamos de estudar para aquela semana de prova, no fim do semestre, e chega aquela pessoa que diz: “Vai limpar a casa, já que você não faz nada, só estuda!”. Dica: respire fundo e continue estudando.

Nós, da área de Humanas, estudamos essencialmente para sermos professores. E quer profissão mais desvalorizada que essa? Você tem várias turmas, cada uma mais lotada que a outra, muitas vezes, com alunos desanimados numa sala que não tem a mínima estrutura para se dar aulas. E isso acontece com o magistério assim como com outras profissões também muito importantes, mas que têm pouco reconhecimento numa sociedade que adora inverter valores. No entanto, você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com o tema da coluna. Simples, além de estudar, também trabalho. E vocês podem imaginar o quão é complicado, para mim, fazer as duas coisas.

Vai fazer um ano que sou estagiária do Laboratório de Inclusão da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social. O Laboratório é um centro de estudos, pesquisas e desenvolvimento de projetos de inclusão social para pessoas com deficiência e vulnerabilidade social. Nós temos tantos projetos e fazemos tanta coisa, que fica difícil responder quando me perguntam o que faço lá. Oficinas, palestras, reuniões, planejamentos e relatórios fazem parte da minha rotina de trabalho. Não é fácil, a luta por acessibilidade é grande, mas amo o que faço.

Por ser tetraplégica, tenho carga horária reduzida e, por incrível que pareça, há gente que desvaloriza meu trabalho por isso. Para algumas pessoas, trabalho ainda é aquele que você sai de manhã e volta à noite. Fazer a diferença na vida das pessoas, incentivar, informar e abrir caminhos para os que ainda virão é tão importante, mas, para muitos, estou brincando de trabalhar. Afinal, sou deficiente, não preciso nem posso entrar nesse mercado. Alguém perguntou à minha mãe para que eu tiraria minha carteira de trabalho. Algumas pessoas ainda se perguntam como posso ser incluída e se assustam ao ver que faço muitas coisas. Entendo que é difícil aceitar o diferente, mas é preciso ter mente aberta para evoluirmos.

E assim é. Aguentar certas coisas me deixam muito desanimada, às vezes. Mesmo que não demostre, eu percebo quando a intenção da pergunta é me diminuir, percebo aquele deboche em certos comentários. Mas cada palestra que faço, cada texto que escrevo e cada obrigado que recebo reafirmam minha certeza de que estou no caminho certo, me fortalecem e me fazem olhar para o que ou quem verdadeiramente importa. Sou teimosa o suficiente para ignorar preconceitos e seguir em frente.

Enfim, acho que todo trabalho tem um valor. Já pensou o que seria de você sem aquela pessoa que fica cuidando da casa? Sem aquele que lhe serve no restaurante? Sem a pessoa que apanha o lixo da cidade? Pense e comece a respeitar, sem diminuir ou prescrever a capacidade de ninguém. Você que se sente desvalorizado, lute e mostre, a quem for preciso, a importância daquilo que você faz. Respeitar também é uma forma de amar e é de amor que o mundo está precisando. Espalhem amor e até a próxima!


Os textos assinados e os pensamento expressados neles são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do blog Letras Na UECE.


Sou Danielle Cardoso, graduanda do curso de Letras Português – Bacharelado da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e estagiária do Laboratório de Inclusão da Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Social (STDS). Sou cadeirante, pois tive Paralisia Cerebral ao nascer, o que afetou meus movimentos e minha dicção, mas não minha vontade de vencer. 
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terça-feira, 28 de junho de 2016

COLUNA | A dança macabra do tempo (Parte II)

Por Italo Machado
29/06/2016 - Fortaleza

Clique aqui para ler a primeira parte deste conto.
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Recusar esses planos não colava mais, o homem moderno distante envolveu o braço numa mulher de mesmo jeito. Ela tinha o cabelo curto, usava um cardigan com saia curta. Ambos muito simpáticos moveram suas cabeças chamando por mim. Então senti trair o velhinho saltitante, a senhora das flores e os brinquedos solitários.

Troquei muitas coisas por outras. No momento me parecia o melhor a ser feito, o mais aceitável e menos constrangedor. A transição foi feita rápida e precisamente, um truque de mágica. Cigarro e bebida eram necessários. E foram nesses instantes de fumaça e espelhos, com demônios e aranhas gigantes a dançar no ar, que notei meu crescimento.
O relógio não havia parado. “Ele nunca parou”. O relógio não parava. E quando foi que eu aceitei isso? Não teria um contrato? E se caso tivesse, não teria eu o quebrado? Uma voz distante não parava de gritar e subir e gritar e subir… E chegou ao nó da garganta como um soco.

A dona aranha 
subiu pela parede. 
Veio a chuva forte 
e a derrubou.
Já passou a chuva, 
o sol já vai surgindo.
E a dona aranha 
continua subindo...

“Você tá bem? Quer vomitar?”

Os olhos mareados e inconsistentes. Sorri, fiz com a mão um gesto despreocupado. 

“Tô ótimo”.

O banheiro era grande e cheio de quadros de pessoas em vasos sanitários. Aquilo lembrava a época punk de um modo muito caricato e artificial. Diante do espelho, nada era tão simples de identificar, meu rosto, meus olhos, minha boca que tremia.

“Você tá bem, rapaz?”, outra vez perguntaram; não liguei.

“Sim, sim, acho que é fome”.

E aquilo era verdade. Cercando meu rosto magro, estava a barba rala que por muito tempo recusou-se a crescer. Deixava de gerar um sentimento de conquista para causar repulsa. Nada daquilo me agradava.

“Isso nunca lhe agradou”.

Num susto, levantei a cabeça e corri os olhos por todo o lugar. Do outro lado do espelho – o imediatismo não me permitia virar o corpo – a porta voltava-se para fechar, e pude jurar que um par de pernas finas escapava por ali, dançando. Não dançando de modo feliz, apenas sendo levado, pelas coisas que levam, porque continuar me olhando era difícil.

Cheguei a bater no rosto, deixando a pele vermelha, ignoraria o visto e poderia continuar vivendo daquele jeito. Claro!

“Não.”

Aquilo era perfeitamente normal. Todos vivem assim. Por que…

“Não.”

…eu não poderia ser que nem…

“Não.”

… eles?

“Não.”

Não, não, não, o tempo não muda. O tempo não cansa de continuar andando e falando – às vezes gritando, às vezes cantando –, não espera por ninguém, não espera você se arrumar para pegar o trem, não corre se o dia tiver chuva enquanto se deseja uma praia, não volta se o muito velho quiser subir em árvores. Mas ele não obedece a ninguém, ele é justo. O que posso negar? Tenho apreço pelo velhinho! Nunca se pode fazer as coisas voltarem a ser como antes, mas por que então deixá-las? Na verdade, elas nunca se vão, o tempo muda, é claro, mas o que há de ruim é feito pelo homem. Você vai embora de casa e vai trabalhar e vai fazer as coisas da vida de homem e mulher e cão. E você, diga, deixa para trás aqueles dias?

O tempo é que sofre por você, sinto dizer. E seria bem compreensível se ele lhe maltratasse. Mas ele não faz isso sempre.

As flores do canteiro diminuíram porque foram substituídas pela praticidade do plástico, mas nunca deixaram de existir. Há uma parte delas, descobri, tão natural quanto o sol que as banhava de dourado. Sempre estiveram lá. O lugarzinho sobrado era suficiente para viver caso alguém assim desejasse. Eu escolhi não morar lá, mas deixá-lo em plano de fundo, como uma boa lembrança a ser resgatada da memória nos dias difíceis. A recusa pelo avanço, o zeitgeist, no entanto, continuou.

“Meio termo nunca é fácil, mas por eliminatória pode-se tirar muitas coisas, sabe…”.

A velhinha sorriu e me disse em tom satisfeito:

“Com o tempo você melhora”.

Vai ver que esse é o problema. Fazer as pazes com o tempo, melhorar com ele, é uma boa ideia. Vai ver que assim eu tomo jeito e aprendo de vez a sair de cima do muro.

Até lá eu faço o que me agrada. Seja por comodismo ou luxo ou ingenuidade ou preguiça, tudo se acaba mesmo. Só que o homem moderno e seu par de fachada não vão sorrir para mim. Essa é a minha eliminação, meu assassinato. “Que a chuva molhe suas máscaras de maquiagens maquiavélicas. Ah, e que o tempo os façam velhos. Ranzinzas, do tipo que não dançam. E não me procurem de novo!” A porta é batida; é uma morte sincera.

Sempre que o relógio marcar Tarde, eu vou dar dois tapinhas ou tacá-lo logo na parede. Não posso aceitar a verdade assim tão fácil.

Porque, às vezes, a gente esquece, às vezes, a gente perdoa, às vezes, a gente lembra com carinho. Às vezes, a gente tudo.

E o tempo não volta, mas outras vezes a gente volta, estando sujeito a tudo que passou de novo, de novo e de novo...

[FIM]

Os textos assinados e os pensamento expressados neles são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do blog Letras Na UECE.


"Essa gente deve saber quem somos e contar que estamos aqui!". Como o Pequeno Nemo de 1905, tenho medo que descubram quem eu sou ou onde vivo. Amante da fantasia, de tudo aquilo que conta o real de forma improvável. Cinéfilo e contista.

segunda-feira, 13 de junho de 2016

OPINIÃO | A mídia e suas meias verdades sobre a ocupação das escolas estaduais do Ceará

Por Jana Lisboa
13/06/2016 - Fortaleza

Alguns jornais divulgam notícias sobre a greve dos professores e a ocupação das escolas do estado do Ceará, como se os únicos motivos fossem o reajuste salarial (de 12,5%) e o aumento do subsídio para a merenda escolar (que atualmente é de R$ 0,31 por aluno). Isso, para não dizer que é uma “meia verdade”, é um recorte midiático. Difundem, também, movimentos distintos de professores e estudantes desunidos atrás de interesses próprios. Eu não me espanto que eles façam isso. 

As notícias ainda trazem informações sobre como não são todos os professores e professoras que aderiram à greve. O motivo não é a falta de concordata de reajuste salarial e melhores condições físicas e psicológicas de ensino que fez com que nem todos os professores e professoras aderissem à greve. Aliás, foi exatamente por essa pressão psicológica que espalha para professores temporários e em período aprobativo que, caso estes aderissem à greve, seriam demitidos, que fez que nem todos eles participassem. Não me apavoro que eles insistam nesse foco. 

Para além do reajuste salarial, sobram motivos para as professoras e os professores entrarem em greve. E, definitivamente, os vários alunos e alunas que estão ocupando as escolas não têm como única preocupação a verba vergonhosa para a merenda, caso contrário, a média de 10% dos alunos e alunas das escolas ocupadas não estariam acampados nas escolas, bancando a alimentação do seu próprio bolso. O que eles temem em mostrar é que a greve e as ocupações são movimentos que estão juntos na elaboração de uma malha educacional acessível e de qualidade.

Reajuste salarial, sim, alimentação decente, também. Mas para além disso, estruturas escolares dignas, material didático em mãos durante o calendário letivo, o Passe Livre para que se possa ter o conhecimento de mundo e um ensino crítico sobre o empoderamento de gêneros (não só o feminino, mas todos eles) e negros, a força da classe econômica menos abastada que unida e organizada entende que pode mudar as estruturas sociais para uma educação mais ampla e digna.

Nas minhas visitas às escolas e nas minhas conversas com os professores estaduais, eu não encontrei uma ocupação que não fosse organizada, um estudante que não soubesse o que queria, um mestre ou mestra que, apesar de estar dando um basta para a memorização que os seus superiores demandavam, não fosse humilde o suficiente para saber que estava aprendendo com os seus aprendentes. 

É por isso que a mídia insiste em dar foco no pequeno recorte das pequenezas. Pois se eles mostrassem o todo, quero dizer, o gigante que é esse movimento, essa união, essa luta, seria de aterrorizar aqueles que estão preocupados em manter as estruturas sociais rígidas, não seria? 


Os textos assinados e os pensamento expressados neles são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do blog Letras Na UECE.

Jana Lisboa é formada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. Especialista em Tradução e Interpretação. Mestre em linguística aplicada. Contadora de Histórias. Diluidora da sociedade líquida. Faz textão no Facebook. Acha que toda forma de amor é válida. Acredita que a educação deveria ser um bem acessível a todos e até hoje sente muita dificuldade de falar sobre o que ela ama.


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quarta-feira, 8 de junho de 2016

COLUNA | Escolhi ser feliz

Por Danielle Cardoso
08/06/2016 - Fortaleza

Oi, gente! Tudo bem? Desde já, quero agradecer o feedback maravilhoso que recebo a cada texto publicado, o que me dá mais força para continuar escrevendo. Gratidão! Até agora, falei dos desafios que enfrento para estudar, trabalhar, viver enfim. Hoje, quero compartilhar um pouco daquilo que me motiva a lutar todos os dias por um mundo melhor. Vamos lá?!

Desde que entrei na UECE, tive que dobrar minhas forças para não desistir. Como vocês já puderam perceber, não foi e não é nada fácil estar na UECE, ser a única cadeirante do Centro de Humanidades e enfrentar coisas que parecem surreais de tão inacreditáveis que são. Ao passar no vestibular, eu meio que já imaginava que minha vida seria muito complicada, a partir daquele momento, por isso, quis recuar, decidi não fazer minha matrícula, mas existem seres humanos que são verdadeiros anjos na nossa vida.

Além da força que meus amigos me deram, também recebi muito apoio do diretor da escola onde eu estudava na época (ressalto que sou oriunda de escola pública e tenho muito orgulho disso). Essa pessoa maravilhosa, inclusive, é, em parte, o culpado por eu estar no sétimo semestre do Curso de Letras. Ele nunca desistiu de mim, sempre me incentivou muito a estudar, a prestar vestibular e quase me obrigou a fazer minha matrícula, inclusive me acompanhando, no dia em que fui chamada, e me ajudando pelo tempo que pôde no meu processo de transição e adaptação na UECE.

E não foi só ele, não. Meus professores do ensino médio me apoiaram muito também. Penso que verdadeiros professores são heróis, porque podem mudar a vida de seus alunos. Com todo o apoio, não teve como desistir do meu sonho de ser universitária. De lá para cá, abracei uma luta contra o preconceito e em prol de acessibilidade e de inclusão que não tem fim e requer força e coragem.

Tendo toda uma história de perseverança, irrito-me ao ver pessoas reclamando por problemas pequenos, pessoas que se dizem arrependidas de terem nascido por não terem uma vida dentro dos padrões convencionais de normalidade. A vaidade exacerbada tem deixado pessoas lindas extremamente feias e tristes. Meninas têm que ser magras, têm que ter namorado e as que não têm ficam depressivas. Rapazes têm de “pegar todas”, se não são menosprezados pela sociedade.

É complicado olhar para o lado e perceber que a vida não acabou porque você amanheceu com dor de cabeça. Não estou querendo diminuir os problemas de ninguém, não conheço a realidade de quem está lendo este texto. Só quero repassar o que minha mãe me ensinou muito bem: ou você escolhe ser feliz, apesar de tudo, ou você é triste. No meu caso, mesmo tendo tudo para nem sair de casa - afinal não ando, não falo normalmente, tenho poucos amigos, não tenho namorado nem nunca tive a atenção de um pai -, escolhi ser feliz e isso fez toda a diferença na minha vida.

Graças a isso e ao amor sem medidas de minha mãe, hoje, sou universitária, estagiária, palestrante e colunista. Já pensou se eu tivesse escolhido a outra opção? Se consegui tudo isso, não há desculpas para pessoas acharem que não são capazes. Se você, por acaso, está desanimado(a) com alguma coisa, reflita e perceba que existem situações bem mais difíceis que a sua. Se esse não é seu caso, veja se você pode doar um pouco do seu tempo para ouvir e entender alguém. Isso é tão enriquecedor, vocês nem imaginam! 

Você tem saúde? Se sim, agradeça e vá à luta! Reclamações não resolvem problemas! Espero que você se inspire neste texto e seja uma pessoa melhor a cada dia. Não deixe de acompanhar nossa coluna! Leia, comente e compartilhe, sua opinião e participação são muito importantes para mim. Na próxima, vou falar de falta de reconhecimento no trabalho. Já passou por isso? Acompanhe e até lá!

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Sou Danielle Cardoso, graduanda do curso de Letras Português – Bacharelado da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e estagiária do Laboratório de Inclusão da Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Social (STDS). Sou cadeirante, pois tive Paralisia Cerebral ao nascer, o que afetou meus movimentos e minha dicção, mas não minha vontade de vencer. 
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domingo, 5 de junho de 2016

COLUNA. A dança macabra do tempo (parte I)

Por Italo Machado
05/06/2016 - Fortaleza

Um dia o tempo diminuiu o passo, entrou pela janela e conversou comigo. Ele era um velhinho de jeito engraçado, com as canelas tão finas que quando andava parecia estar dançando. De vez em quando o vento batia e ele saía rodopiando. Mas isso não impediu que ele me dissesse:

“Cuidado com o que pensa, a gente volta, mas o tempo não”.

Assim ele riu como todo velho ri e deixou o vento lhe levar de vez. E o tempo passou para muita gente. Mas o tempo não passou para mim.

Quando o relógio marcasse Tarde é que eu iria acreditar que o tempo passou. Até então continuava sendo eu mesmo, de mesma idade, de mesmo cabelo bagunçado, sorriso e jeito torto de pensar. As costas doíam, mas eu não queria acreditar que já era hora de pensar num novo plano de fuga.

“Infalível. Incontestável…”.

“Não temos, infelizmente”.

“Inacreditável”.

Planos de fuga nunca são feitos com o real objetivo: de fuga; com a melhor das intenções, certamente, mas acontece que todo plano é uma procrastinação. “A fuga não pode ser hoje?”

“Não”.

“Oh…”.

Queria dois Guias de Fuga. Pedi por favor. A moça repetiu que não tinha, e me deu por vencido, virando as costas, e depois quando já saía a ouvi depois cochichar para outra pessoa que não tinha era paciência de procurar. Foi preciso ignorar a raiva.

Foi preciso ignorar muita coisa para tomar jeito na vida. O caminho de açúcar, aquela velha estrada de tijolos amarelos, já tinha desaparecido, já era só uma lenda, e muitos diziam que sempre fora uma. Mas eu sabia que era bem real. Ouvi dizer, uma senhora que regava as flores todos os dias dos canteiros ali perto, os que antes eram extensos e definitivamente bem mais coloridos, me contou com certa melancolia.

 “Desapareceu quando se espalhou o boato que era feito de ouro. Logo se foi. Você sabe como funcionam as coisas…”.

Essa foi a gota d’água, foi o brilho de verdade que não mais me parecia familiar, que realizar grandes feitos não era tão simples assim. Quanto eu estivera distraído?

Daí em diante a memória me falhava mais que o normal. A infância era um passado distante, mas não tão distante quanto deveria ser. Crescer não tinha tempo, apesar de tudo que eu vivia no momento era ordenado por isso.

“Eu podia chamar isso”, eu disse à garota de cabelos ruivos no meu quarto, “de Terra do Nunca, sabe, aquela do Peter Pan…”.

Parecia ter falado só para as quinquilharias que flutuavam no lugar. A ruiva respondeu:

“Você podia tomar jeito”.

Não, obrigado. Aquilo era exigir demais. Não deu dois dias para que eu a enjoasse e expulsasse de casa. As quinquilharias insistiram.

“Certo então”, eu disse a elas, botando uma calça e uma camisa de marca. “Eu realmente vou ter que fazer isso. Sabe, não é todo dia que eu consigo essa coragem. Essa paciência de ser que nem os outros. Quê? Que vocês estão olhando? Isso não tem nada a ver com o que ela disse… Bem, talvez tenha. Mas eu nunca vou deixar vocês. Não vou tomar jeito, não o jeito deles. Vou fingir um pouquinho".

Elas deixaram de flutuar por um instante, caíram até quase encostar ao chão. Peguei todos eles: os livros, os toca-fitas, as páginas de rabiscos, o trenzinho de madeira e os jogos de tabuleiro.

“Ora, parem com isso. Preciso de dinheiro!”.

O dinheiro foi o suficiente para aguentar as demandas locais. O local era no início muito pequeno, a área era cinzenta, árvores colocadas metodicamente, nada de tão natural. Só que um dia eu vi isso noutro lugar, um inesperado. Depois, noutro, eu ri. Porque isso tudo não me deixou perplexo, talvez estava sob o efeito do fingimento. Ora, tudo aquilo era bem normal acontecer, uma vez em casa, eu poderia respirar aliviado.

Isso não aconteceu porque, bem… porque tudo corria muito rápido. Vestir um terno exigia esforço, e quase não havia tempo. Mal chegava em casa para dormir, e já era hora de correr ao som agoniado do relógio.

“Eu já ouvi”.

Acabavam-se os sete dias, no último era convidado para a diversão. Neste eu via um homem de atlético blazer prateado, era simpático, mas o senso de humor muito reservado ao absolutismo: “Vai ser divertido”.

“A gente te mostra a cidade”.

“Mas eu não sou de fora…”, rebati.

“Não?”, caras de espanto e então dentes sendo descortinados forçadamente.

[Continua]

Os textos assinados e os pensamento expressados neles são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do blog Letras Na UECE.


"Essa gente deve saber quem somos e contar que estamos aqui!". Como o Pequeno Nemo de 1905, tenho medo que descubram quem eu sou ou onde vivo. Amante da fantasia, de tudo aquilo que conta o real de forma improvável. Cinéfilo e contista.