Por Dawton Valentim
10/04/2016 - Fortaleza
Na tarde do dia 08 de abril, o Blog Letras Na UECE entrevistou o Prof. Jackson Sampaio (foto), atual reitor da Universidade Estadual do Ceará e candidato à reeleição com a chapa Mais Ousadia e Transformação, no prédio da Reitoria (Campus Itaperi). Em uma hora de conversa, falamos sobre a crise política interna do Centro de Humanidades, sobre a segurança dos campi da UECE, sobre a estrutura física da universidade, sobre índices de crescimento e vários outros assuntos que estão, agora, totalmente disponíveis, na íntegra.
Na manhã do mesmo dia 08, o Campus Itaperi sediou um dos mais completos debates entre os candidatos, que teve duração de cerca de duas horas e meia. As candidaturas responderam perguntas do público presente, que encheu o auditório, e interpelaram-se. A diferença de perfil dos dois modelos de gestão esteve ainda mais evidente. Estivemos presentes ao debate e fizemos uma cobertura por meio de nosso canal no aplicativo de mensagens Telegram (@letrasuece).
A entrevista do Prof. João Batista, candidato a reitor pela chapa Unir Para Renovar, também aconteceria no dia 08, mas, por um imprevisto, foi adiada para a segunda-feira, 11 de abril. O Blog Letras Na UECE se compromete a se esforçar para disponibilizar a íntegra de tal entrevista ainda no dia 11, apesar do tempo de edição ser considerável, para minimizar os prejuízos que possam existir no fato de a entrevista acontecer na véspera da consulta pública, que será no dia 12 de abril, terça-feira.
Além da íntegra da conversa que tivemos, a seguir, fazemos uma síntese das perguntas e das respostas que foram realizadas durante a conversa com o Magnífico Reitor.
Foto e apoio: Kayque Ferreira
"Eu quero é dar conta de um crescimento complexo como o da Universidade Estadual do Ceará, historicamente subfinanciada e historicamente cheia de contradições internas, entre a UECE dia e a UECE noite, a UECE capital e a UECE interior, a UECE com pós-graduação e a UECE sem pós-graduação".Nossa primeira pergunta ao candidato foi, considerando que a reeleição é um dos assuntos que tem estado em intensa discussão, no atual momento político nacional, e o argumento de que a rotatividade na gestão é saudável em vários aspectos, por que concorrer, novamente, ao reitorado? O professor foi taxativo e afirmou que considera o direito de reeleição como um prêmio ao bom gestor, ou seja, ao gestor cuja gestão é bem avaliada pela comunidade. "É como se toda gestão tivesse oito anos e um plebiscito no meio, que define se ela continua ou não", compara. Jackson afirma ainda que é impossível, dado o modelo político atual do país, "constranger uma gestão pública politicamente a dois anos e administrativamente a quatro".
"A rotatividade não é só benéfica, ela também é maléfica, porque você cria também descontinuidades. Não existe projeto de gestão pública que caiba em quatro anos".As novelas das licitações, que começam na briga das empresas pelo primeiro lugar e se esticam até pedidos da empresa vencedora do processo licitatório por mais dinheiro do que havia previsto na redação do projeto, são apenas alguns dos aspectos que tornam curtos os quatro anos aos quais cada gestão de reitoria tem direito. "Ninguém é obrigado a se recandidatar. A recandidatura é uma análise política", finaliza o candidato.
Questionado sobre as dúvidas quanto ao crescimento da universidade nos últimos quatro anos, crescimento que, segundo a chapa concorrente, sofreu declínio comprovado por indicadores nacionais e internacionais, Jackson Sampaio defende que ler estatísticas não é simples como parece: "Há um equívoco em considerar que a mudança de posição é declínio. Digamos que eu cresci 10% e um outro cresceu 20%. Você pode ter uma diferença do percentual de crescimento, ninguém declinou, todos cresceram, agora cresceram com velocidades diversas", afirma. O reitor afirma que a UECE chegou a superar universidades federais quando as federais tiveram um atraso no que se refere a incentivo e, agora, com a retomada dos investimentos, voltou à sua "faixa habitual".
"Não tenho nenhuma ambição que a Universidade (Estadual do Ceará) fique igual à USP (Universidade de São Paulo). Não tem como. O Estado do Ceará não tem a riqueza do Estado de São Paulo. A elite cearense não cultiva o ensino superior como a elite paulista cultiva".Como resposta à pergunta "como serão tratadas as questões de inclusão e de acessibilidade para todos os tipos de deficiência em todos os segmentos da UECE?", de Dani Cardoso, estudante de Letras que é cadeirante e colunista do Blog Letras Na UECE, o professor afirmou que acessibilidade está nas propostas da chapa, mas que, no Brasil, onde é difícil "escolher prioridade onde tudo é prioridade", é preciso trabalhar em duas vias: cuidar de estudantes com deficiência que estão agora na universidade e preparar a instituição a partir das perspectivas de ingresso de novos estudantes deficientes. Outro problema apontado pelo reitor foi a falta de autonomia financeira que a universidade possui, tendo de depender diretamente de decisões do Governo do Estado: "Com essa crise financeira atual, ano passado, a gente lutou mês a mês para manter o que havíamos conquistado. Mês a mês, havia a possibilidade de cortarem 600 bolsas estudantis das 1800 que temos (...). Mês a mês, eu tinha a possibilidade de cortarem 120 dos 500 (funcionários) terceirizados".
"A vitória que evita um problema não é percebida. Se você tem dois pratos e passa a ter três pratos, você percebe. Mas se você evitou que um prato fosse quebrado e você continua com os mesmos dois, você sabe que era pra ter um e conseguiu evitar que um fosse quebrado. Essa posição não é percebida".
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Auditório Central da UECE antes do começo do debate entre os candidatos à reitoria na manhã de 08/04Foto: Dawton Valentim via Telegram |
"A minha compreensão, hoje, da questão da insegurança do Campus Itaperi ou Campus Fátima é que a percepção, o sentimento de insegurança é maior do que a insegurança real, objetiva. Não estou negligenciando a insegurança, de modo algum, estou dizendo que a percepção, hoje, pensa com a ponta dos dedos, a percepção vai imediatamente pro Facebook ou pro WhatsApp e você cria uma rede que fica circulando. Então, um mesmo fenômeno ou a mesma denúncia de um fenômeno vai e volta pelas pessoas que estão naquela rede e você não sabe se é uma denúncia nova ou se é a primeira que tá voltando pela segunda vez, terceira vez".Para o gestor, fazer boletim de ocorrência, ou seja, fazer com que o acontecimento violento entre oficialmente no radar da polícia é a primeira grande recomendação. "As pessoas precisam ter uma cultura cidadã do registro do B.O. (...) O registro é individual e é feito pela pessoa que foi vítima. Eu posso lhe dar apoio, eu posso ir com você, eu posso designar alguém da Pró-reitoria da Administração pra acompanhar você, mas eu não posso substituir você. É mais fácil denunciar no Facebook do que ir fazer o registro", afirma Jackson.
Ainda sobre segurança, o reitor afirma que, em mapeamento feito pela universidade, quatro são os principais aparecimentos da violência: dano às pessoas, dano ao patrimônio público, tráfico de drogas e assédio sexual. O candidato à reitoria afirma que a Universidade Estadual do Ceará entrou, mesmo que marginalmente, no circuito do tráfico de drogas. "Eu, da minha parte, entendo que o consumo é uma escolha individual (...). Então, eu não tendo a criar nenhum esforço pra combater o uso de drogas, mas eu preciso combater o tráfico. O tráfico gera outros crimes, como o tráfico de armas e a possibilidade do surgimento de tráfico organizado", diz.
Sobre os assédios sexuais, Jackson Sampaio diz que entende a subnotificação de casos de assédio, ou seja, a não notificação de todos os casos, porque o assédio é um crime que deixa as vítimas vulneráveis e ansiosas. O professor afirma que não há nenhum registro, seja na polícia ou nos registros internos da universidade, de estupro dentro da instituição, mas que não é por isso que o assunto não merece atenção da gestão. O assunto da segurança foi encerrado com a apresentação do plano de segurança dos campi da UECE preparado e entregue pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Civil do Estado do Ceará à Universidade (leia mais sobre o plano clicando aqui). O documento descreve as vulnerabilidades das 11 unidades da UECE e propõe ações que nortearão, segundo Jackson, as ações de combate à insegurança dentro da universidade.
A pauta que encerrou nossa conversa com o atual reitor e candidato à reeleição foi a crise política interna pela qual passou o Centro de Humanidades da UECE (CH), nos últimos dois ou três anos. Quando questionado se a Reitoria foi omissa durante a crise, Jackson foi taxativo: "Nossa posição foi reforçar a responsabilidade do Conselho do Centro de Humanidades". O reitor afirmou que só poderia intervir mediante um processo de impedimento ou processo de intervenção, ambos previstos pelo estatuto da UECE somente para casos de improbidade administrativa e com 18 meses de duração. "Se a pessoa é autoritária, se ela xinga alguém, ela vai se desgastando e acredito que não seja mais eleita nem para síndico de prédio. Há um retorno político". O docente finaliza defendendo que a reitoria fez tudo o que estava a seu alcance e que possui 42 processos administrativos na Comissão de Sindicância pautados pela crise do CH e de autores que se alternam em acusadores e vítimas.
Evidentemente, recomendamos a audição da entrevista em sua íntegra, uma vez que cortes naturais foram feitos para a construção da síntese da conversa que tivemos com o magnífico reitor. Se você gostou desse formato de produção de conteúdo, não deixe de se manifestar! Curta, comente e compartilhe!
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