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segunda-feira, 16 de maio de 2016

COLUNA. A Educação precisa estar na contramão da discriminação

Por Danielle Cardoso
16/05/2016 - Fortaleza

Olá, gente! Tudo bem? Espero que sim! Considerando que estamos, UECE, enfrentando uma greve docente e um momento político muito complicado, quero começar o post de hoje manifestando toda a minha solidariedade aos alunos e aos professores. Aliás, por falar em professores, eles farão parte da nossa conversa de hoje.

Se você já está pensando em trancar alguma disciplina por não ter se dado bem com o professor, eu lhe entendo. Também já passei por professores que me deixavam bem mal e é isto que quero compartilhar com vocês dessa vez. Sou Dani Cardoso e estou aqui para a nossa segunda postagem no Blog Letras na UECE.

Quem nunca passou por um professor que marcou negativamente? Daquele que quer que você decore o(s) texto(s) e transcreva na prova, passando por aquele que fala mais do que você no seminário e aquele que diz “Aqui, só ficam os fortes”, indo até o professor turista, que falta demais ou que só fala das viagens que já fez. Embora cada um tenha sua maneira de ensinar e devamos respeitar essa diversidade, convenhamos que, se já é difícil lidar com professores como os que mencionei, o que dizer daqueles que ainda são preconceituosos?

Homofobia, conservadorismo, racismo, machismo, capacitismo, etc. O preconceito tem várias faces e se manifesta de várias formas. Todo mundo tem preconceito, isso é fato, mas, particularmente, acredito que, quando você se dispõe a ser professor, você deve ter em mente que dará aula para uma enorme variedade de pessoas e o seu preconceito tem de ficar em casa. Nós, “de Humanas”, temos que ter esta sensibilidade muito mais apurada, pois convivemos com uma diversidade linda já em nosso ambiente universitário. E não estou falando que as outras áreas não devem se preocupar com isso, pelo contrário, mas nós, justamente por lidarmos diretamente com a diversidade de ideias, deveríamos ser exemplos de tolerância.

Por ser deficiente, já ouvi muito “Eu não sei lidar com ela, porque na faculdade nunca tive aula de Educação Especial”. Certo, não posso negar que a grande maioria dos cursos de licenciatura não oferecem preparação nenhuma ao futuro professor para que ele lide bem com alunos com necessidades “específicas” (este termo surgiu de uma conversa com meus colegas de curso e decidi usá-lo, mesmo não sendo epistemológico, por achar que é mais apropriado do que “necessidades especiais”, que dá margem para que tratem pessoas com deficiência como especiais, diferentes dos outros, o que não acho legal). É uma realidade que, aos poucos, está mudando. Apesar de achar importante que haja uma preparação específica nos cursos de graduação para que licenciandos saibam como lidar com alunos deficientes, acredito que, enquanto essa preparação ainda não existe, a formação humana que qualquer curso de licenciatura oferece já ajuda bastante. Não é possível chegar para o seu aluno e conversar com ele? Garanto: você pode aprender muito com ele!

Ignorar o problema ainda parece mais fácil do que enfrentar o problema. Tive professores, antes de entrar na UECE, que fingiam não me ver. Eu explico. Houve um que estava fiscalizando prova e, por eu ter sido a última a terminar, me deixou sozinha na sala, alegando que “todos” já tinham terminado. Outro, não sei se por achar que eu não era capaz, me excluía de quase todas as atividades. Outro pulava meu número de chamada ou fingia que não ouvia quando eu respondia (esse chegou a perguntar se eu entendia o que era falado ou se eu era surda).

Eu sei que tenho meus movimentos e que demoro um pouco para responder a alguma coisa (por isso, não precisa falar comigo quando você passar por mim apressado. Provavelmente, eu não conseguirei lhe responder ou não vou lhe ver. Já houve gente que passou por mim correndo, gritou meu nome e não tive tempo de levantar a cabeça e responder. Enquanto a pessoa pensou que eu a havia ignorado, eu sequer a tinha reconhecido), mas dá para perceber que não sou surda e que entendo até o que não devia. É uma falta de atenção imensa, falta de interesse em observar o aluno e/ou conversar com ele. Você não precisa de preparação para isto, tenho certeza!

Como já disse, há vários jeitos de ensinar, mas, quando boa parte da turma não entende o conteúdo, tem alguma coisa errada com você, professor. Certo professor de uma matéria de Exatas, na escola, explicava cálculos como se narrasse um jogo de futebol. Grande parte da turma não entendia, mas ele não se importava, pois eram os alunos que não prestavam atenção (tá “serto”!). Eu, particularmente, chorava, porque sabia que tiraria nota baixa. Quando questionado por uma amiga sobre minha situação, o professor respondeu: “É aquela velha história: um dia, ela vai deixar de acompanhar”. Hoje, estou no sétimo semestre do curso de Letras… Ele se enganou!

No texto anterior desta coluna, descrevi todas as dificuldades pelas quais passei quando entrei na UECE. Graças a pessoas interessadas em me ajudar, muita coisa se resolveu: colocaram minhas disciplinas em apenas uma sala do térreo; a Universidade, enfim, garantiu meu transporte; a sala em que estudo conta com uma mesa para o professor e uma para mim… Mas, como a luta por acessibilidade é um processo lento, ainda passo por momentos como quando um professor finge que não existo, como quando esse mesmo professor se recusa a dar aula no térreo, mesmo com a coordenação falando que eu existia ali, me forçando a contar com servidores e amigos para me subirem e me descerem, se eu quisesse assistir às aulas. 

Se fosse hoje, eu denunciaria tais atitudes, mas, na época, não sabia como fazer isso. Prefiro pensar que “aquilo que não mata, fortalece”, saí mais forte. É com esta “frase de Facebook” (risos) verdadeira que termino meu texto. E, se você está pensando em desistir de uma disciplina por algum problema que citei aqui ou por qualquer outro, pense bem. Talvez não seja o melhor. Procure uma solução e, certamente, você encontrará! Não deixe de acompanhar a coluna! No próximo texto, pretendo falar de normalidade. Você é normal? Eu não sou! Fiquem bem e até lá!

Os textos assinados e os pensamento expressados neles são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do blog Letras Na UECE.


Sou Danielle Cardoso, graduanda do curso de Letras Português – Bacharelado da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e estagiária do Laboratório de Inclusão da Secretaria do Trabalho e do Desenvolvimento Social (STDS). Sou cadeirante, pois tive Paralisia Cerebral ao nascer, o que afetou meus movimentos e minha dicção, mas não minha vontade de vencer.

1 comentários:

Aqui só ficam os fortes... Como se estudar fosse um concurso de halterofilismo ou uma luta de vale-tudo. Quando ouço esse tipo de coisa fico pensando no caráter de quem fala uma palhaçada dessas.

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