Por Jana Lisboa
13/06/2016 - Fortaleza
Alguns jornais divulgam notícias sobre a greve dos professores e a ocupação das escolas do estado do Ceará, como se os únicos motivos fossem o reajuste salarial (de 12,5%) e o aumento do subsídio para a merenda escolar (que atualmente é de R$ 0,31 por aluno). Isso, para não dizer que é uma “meia verdade”, é um recorte midiático. Difundem, também, movimentos distintos de professores e estudantes desunidos atrás de interesses próprios. Eu não me espanto que eles façam isso.
As notícias ainda trazem informações sobre como não são todos os professores e professoras que aderiram à greve. O motivo não é a falta de concordata de reajuste salarial e melhores condições físicas e psicológicas de ensino que fez com que nem todos os professores e professoras aderissem à greve. Aliás, foi exatamente por essa pressão psicológica que espalha para professores temporários e em período aprobativo que, caso estes aderissem à greve, seriam demitidos, que fez que nem todos eles participassem. Não me apavoro que eles insistam nesse foco.
Para além do reajuste salarial, sobram motivos para as professoras e os professores entrarem em greve. E, definitivamente, os vários alunos e alunas que estão ocupando as escolas não têm como única preocupação a verba vergonhosa para a merenda, caso contrário, a média de 10% dos alunos e alunas das escolas ocupadas não estariam acampados nas escolas, bancando a alimentação do seu próprio bolso. O que eles temem em mostrar é que a greve e as ocupações são movimentos que estão juntos na elaboração de uma malha educacional acessível e de qualidade.
Reajuste salarial, sim, alimentação decente, também. Mas para além disso, estruturas escolares dignas, material didático em mãos durante o calendário letivo, o Passe Livre para que se possa ter o conhecimento de mundo e um ensino crítico sobre o empoderamento de gêneros (não só o feminino, mas todos eles) e negros, a força da classe econômica menos abastada que unida e organizada entende que pode mudar as estruturas sociais para uma educação mais ampla e digna.
Nas minhas visitas às escolas e nas minhas conversas com os professores estaduais, eu não encontrei uma ocupação que não fosse organizada, um estudante que não soubesse o que queria, um mestre ou mestra que, apesar de estar dando um basta para a memorização que os seus superiores demandavam, não fosse humilde o suficiente para saber que estava aprendendo com os seus aprendentes.
É por isso que a mídia insiste em dar foco no pequeno recorte das pequenezas. Pois se eles mostrassem o todo, quero dizer, o gigante que é esse movimento, essa união, essa luta, seria de aterrorizar aqueles que estão preocupados em manter as estruturas sociais rígidas, não seria?
Imagem: Página Ocupa CAIC
Os textos assinados e os pensamento expressados neles são de inteira responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do blog Letras Na UECE.
Jana Lisboa é formada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda. Especialista em Tradução e Interpretação. Mestre em linguística aplicada. Contadora de Histórias. Diluidora da sociedade líquida. Faz textão no Facebook. Acha que toda forma de amor é válida. Acredita que a educação deveria ser um bem acessível a todos e até hoje sente muita dificuldade de falar sobre o que ela ama.
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